04 outubro 2006

Abertura

Imagina-se um futuro, em que já teríamos realizado o motivo inspirador da nossa existência, para em retrospectiva definir o que precisaria ser feito para atingi-lo.

Abordar o tema aprendizado e mudança implica tecer considerações sobre conceitos ligados direta ou indiretamente à continuidade, construção e transformação.


  • A gestão do conhecimento no processo de mudança;
  • A gestão do saber na transformação de atitudes;
  • A evolução do saber na transformação de atitudes;
  • A criação do saber na evolução da cultura;
  • A criação do saber na mudança de comportamento;
  • A gestão do conhecimento no processo de mudança;
  • A evolução da cultura nas organizações.


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Sumário

  1. Abertura
  2. Introdução
  3. Desafios da Mudança
  4. Gestão da Mudança
  5. Cultura da Mudança
  6. Agentes da Cultura
  7. Aprendizado Organizacional
  8. Disciplina para uma entidade viva
  9. Mentalidade de Excelência
  10. Processo de Mudança Sustentável
  11. Arremate

Introdução

Todo sistema cresce passando por fases e pontos de ruptura que se caracterizam pelas diferentes abordagens para a inovação e o empreendedorismo.

Quando após uma transformação nos sentimos mais fortes e confiantes para enfrentar o que der e vier, é porque aprendemos com a mudança. Esta aprendizagem será tão maior quanto mais conhecimento for sendo adquirido enquanto as transformações vão ocorrendo.

Como desenvolver a capacidade de aprender com a mudança? O que pode ser apreendido enquanto as mudanças ocorrem? Que informações devem ser coletadas durante o processo de mudança? Como obter conhecimento a partir destas informações?

Estas são questões que precisam ser respondidas para que se possa desenvolver métodos, técnicas e ferramentas para garantir uma aprendizagem continuada nos processos de transformação organizacional.

Independentemente da velocidade, abrangência ou radicalização da mudança, para que se aprenda enquanto ela ocorre há que, metaforicamente, preparar o terreno fértil para semear e colher sabedoria. A qualidade do que se colhe depende de método, espaço, adubo, sementes, disposição, envolvimento e sinergia.

A aceleração das mudanças, a complexidade crescente, a competitividade e a evolução tecnológica são as forças transformadoras do ambiente na atualidade. Estas forças nos obrigam a mudar atitudes sobre tudo e principalmente sobre estudos e projetos. Com relação aos estudos, precisamos mudar a atitude de “aprender uma coisa de uma vez por todas” para “aprender uma maneira de aprender mais rápido e mais profundamente”.

Com relação aos projetos, precisamos cada vez mais abandonar a idéia de “projeto definitivo” para o conceito de “projeto evolutivo”. Com atitudes assim, pode ser que haja um desapego mais fácil das fórmulas de sucesso consagradas, aprendidas, ou adotadas.

O que, certamente, facilitaria a aceitação das novas fórmulas que produzem soluções mais criativas, métodos mais eficazes e projetos mais flexíveis.Considerando que o estudo e os projetos são formas de promover mudanças, essas novas fórmulas implicam em promover mudanças muito mais desafiantes, pois são mudanças na forma de fazer as mudanças – metamudanças.

Mudanças na forma de fazer os projetos, mudanças na forma de aprender. Mudanças que não só mexem com a cultura em termos de valores, como também alteram os esquemas de compreensão da realidade. Estes novos esquemas nos levariam a buscar parcerias sinérgicas que corrijam atitudes, compensem fraquezas e amplifiquem intelecto.


Veja o caso "Rei por um ano" e as respectivas Recomendações.

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Desafios da Mudança

No início o sistema investiga o seu mundo e inventa a si mesmo enquanto faz experiências para criar sua fórmula de sucesso.

Fica difícil imaginar as transformações que irão ocorrer na sociedade quando todos, realmente todos, puderem se comunicar através de meios digitais, podendo em qualquer lugar, a qualquer momento terem a possibilidade de acesso instantâneo a todos os tipos de informação.

Quando chegarmos nesse nível de desenvolvimento, inovar e empreender estarão ao alcance de todos aqueles que tenham disposição para criar algo de valor. Isto porque a inovação depende da rapidez com que acessamos conhecimento, e o empreendedorismo depende das possibilidades de acesso às informações que sinalizam as mudanças. Devemos considerar também que a inovação e o empreendedorismo aumentam a chance de tirar proveito do poder das quatro forças transformadoras do ambiente: aceleração das mudanças, complexidades crescentes, competitividade acirrada e inexorável evolução tecnológica.

Se por um lado podemos conseguir maior poder pela inovação e empreendedorismo, por outro lado o efeito combinado das forças transformadoras faz com que hoje as mudanças sejam mais desafiantes do que em outras épocas.

Mudança baseada em aprimoramentos pode não ser suficiente, pois enquanto aprimoramos rotinas, o concorrente pode estar inovando algum processo, visando permitir ligação direta com o cliente. As mudanças exigem uma atitude cada vez mais criativa e ousada, sem perder o equilíbrio entre a coragem e a prudência. É com esta atitude que poderemos fazer as mudanças necessárias para acompanhar as transformações que já ocorrem e as que estão por acontecer quando formos uma aldeia global e nos comunicarmos instantaneamente com todos e com tudo.

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Gestão da Mudança

Existe uma fase do crescimento de um sistema em que tudo que estiver fora de um padrão de sucesso estabelecido é ignorado, evitado ou atacado.

Na Sociedade do Conhecimento, estamos sujeitos não apenas ao efeito da aceleração das mudanças, como também sofremos o impacto da mudança de comportamento das mudanças.

Além de aparecerem sem aviso, as mudanças também provocam efeitos surpreendentes, exigindo muito mais do que uma trivial solução de problemas para corrigir os desvios que provocam com relação aos objetivos traçados. São mudanças para as quais o oposto de “o ruim” não será necessariamente “o bom”.

Por exemplo, num esquema comercial, a troca de um canal de distribuição “reativo” por um “proativo” poderá não satisfazer aos clientes que querem uma melhoria geral dos serviços. Muito embora esse novo parceiro pudesse até ser o oposto exato do primeiro, com ele quase nada muda, podendo até haver um aumento de insatisfação e prejuízos.

Metaforicamente, é o caso de insistir acelerando o automóvel numa subida sem produzir efeito, podendo até prejudicar o motor, quando o que se precisa é trocar de marcha. Ou extrapolando, insistir na troca de marchas para subir uma encosta íngreme e pedregosa, quando o que se precisa é trocar de meio de transporte.


Cultura da Mudança

Existe um momento em que o sistema dá um salto para o novo e o diferente, procurando se reinventar sem compromisso com qualquer padrão estabelecido.

Programas mentais compartilhados orientam o foco dos interesses e indicam a maneira apropriada de agir, provocando reflexos nas realizações e caracterizando a cultura de uma organização. A cultura organizacional também pode ser vista como um sistema de relacionamento dos seus colaboradores com espaço, tempo, dinheiro, tecnologia, e a natureza.

Ressaltamos também que a cultura engloba valores, hábitos, crenças, preconceitos e paradigmas que o ser humano dissemina e compartilha no relacionamento com seus pares. Dentro desta linha conceitual, no âmbito das organizações o ser humano se torna um catalisador de cultura, disseminando e compartilhando realidades, valores e pressupostos, enquanto se relaciona com seus pares, seus colaboradores e os diversos parceiros de negócios da organização.

O poder e o efeito da influência cultural deste catalisador é função do papel de cada indivíduo como Agente da Cultura Organizacional.


Agentes da Cultura

A melhoria contínua aplicada às fórmulas de sucesso consagradas lastreia as quebras de paradigma e as ousadas inovações.

Quando os fundadores desenvolvem uma visão de mundo e uma fórmula de sucesso para o ramo de negócio em que atuam, começam a se formar as três camadas culturais que se consolidam sobre uma base de experiências organizacionais. Os conceitos assim criados, vão sendo assimilados pelos novos membros que se juntam à organização ao longo do tempo.


Pode-se dizer que foi dessa forma que Amador Aguiar, José Mindlin, Thomas Watson, Henry Ford, Bill Packard e outros passaram suas visões de mundo e formaram a cultura que orienta sentimentos, pensamentos, palavras e atos dos colaboradores que fizeram o sucesso do Bradesco, Metal Leve, IBM, Ford, HP e outras organizações.

Entretanto, temos que considerar que ocupações muito especializadas, como engenheiros, químicos, dentistas, médicos e advogados, têm lentes muito especiais para ver as coisas. Estas lentes possibilitam agregar significados diferentes a certos aspectos específicos da visão de mundo que foi evoluindo a partir do instante da fundação da organização.


Isto também acontece com qualquer especialista ou operador de um mesmo ramo de negócios, ou setor industrial que tendem a ver o mundo de uma mesma perspectiva.

Aprendizado Organizacional

O verdadeiro aprendizado ocorre enquanto as decisões "agora aqui" vão se ajustando em função da avaliação dos possíveis impactos num "futuro acolá".

As organizações aprendem desenvolvendo continuamente seu potencial para criar e inovar através de pessoas que vão desempenhando suas tarefas cada vez com mais habilidade e competência.


Entretanto, para iniciar esse desenvolvimento contínuo, as organizações aprendizes precisam antes compreender que o desafio do aprendizado que aflige a maioria das organizações da atualidade, em última instância está nos indivíduos. Pois, assim como o rio em ‘Lenda das Areias’, de tanto fazer sempre a mesma coisa, algumas pessoas não acreditam na possibilidade de aprender a fazer algo novo, ou a mesma coisa de forma diferente da que estão acostumados.

No campo de forças da organização aprendiz, o que atua a favor ou contra o aprendizado? O maior empecilho parece ser um problema de crença, pois aquele que aprendeu a fazer uma certa coisa, e a faz muito bem ao longo de anos, não acredita que vai conseguir aprender a fazer algo novo ou fazer aquela coisa de forma diferente.


Esse tipo crença leva as pessoas a serem absorvidas pela “areia das transformações”. Elas se limitam a manter imutáveis suas tarefas, perdendo ao longo do tempo a curiosidade intelectual e, por falta de ‘flexibilidade paradigmática’, tendem a criticar de forma agressiva quaisquer tentativas de inovação de processo e até mesmo de aprimoramento de rotina.

Assim, pode-se dizer que a relutância em aprender o novo, além de comprometer o desenvolvimento pessoal, contribui para aumentar o problema da eficiência e eficácia organizacional.

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Disciplina para uma entidade viva

As organizações deveriam ser cuidadas como entidades vivas onde as decisões mantêm a energia numa espiral que se estende enquanto houver vida organizacional.


Pode-se dizer que o aprendizado será tão mais eficaz quanto mais atenção se der ao impacto ao longo do tempo e do espaço do que se faz "aqui e agora". Isto implica, por exemplo, em evitar soluções repentinas que façam "pipocar" problemas graves em outro momento ou em outro setor. Incluem-se nestes casos os erros de obter redução de custos pelo corte imediato de pessoal; e a dedicação exagerada a clientes mais rentáveis, em detrimento de cuidados com outros que jamais serão igualmente rentáveis.

É também o caso de vincular a distribuição e alocação de recursos ao sucesso dos resultados individuais obtidos, aumentando “a chance de sucesso para os bem sucedidos”. Estes casos representam arquétipos das decisões inconseqüentes mais comuns na maioria das organizações. A única forma de evitar erros como esses, é sempre abordar as situações inseridas num contexto amplo e com implicações mais abrangentes.

Dessa forma, no aprendizado eficaz, a organização tem que estar atenta aos impactos de cada plano, deliberação e ação em termos de tempo e espaço. Isto significa considerar que o “agora aqui” sempre modifica o “futuro acolá”, implicando em tomar cada decisão e realizar cada ação, pensando na organização como uma entidade viva que continuará prolongando o efeito da alteração de qualquer variável que for trabalhada num dado momento. Ou seja, a existência disciplinada da Organização Aprendiz só garante o sucesso do aprendizado se tivermos uma abordagem sistêmica para nossas reflexões, verbalizações e ações.


Mentalidade de Excelência

Imagina-se um futuro, em que já teríamos realizado o motivo inspirador da nossa existência, para em retrospectiva definir o que precisaria ser feito para atingi-lo.

A jornada da maestria e da excelência começa quando se inicia um aprendizado. A experiência tem demonstrado que a maestria atinge um caráter especial no campo dos esportes, em que os músculos, a mente e o espírito se juntam em atitudes, comportamentos e movimentos para conquistar uma taça ou bater um recorde olímpico.

Infelizmente, há sinais de que na sociedade atual existe uma espécie de conspiração contra a maestria, pois somos bombardeados com promessas de satisfação e sucesso imediato, que muitos demoram a descobrir que se trata de uma ilusão. Parece que tudo nos leva na direção contrária da excelência, criando uma mentalidade de imediatismo antimaestria. Essa mentalidade desestimula o desenvolvimento de nossas capacidades, ameaçando nossa saúde e educação.

Processo de Mudança Sustentável

Em qualquer fase de todos os ciclos de vida de uma organização, é possível registrar as lições aprendidas pelos diversos agentes do processo de transformação e mudança.

Quando os colaboradores de uma organização se fecham em “castas” de executivos, especialistas e operadores, fica muito difícil capitalizar o conhecimento organizacional. Nestes casos, até a aprendizagem pela tentativa e erro fica impedida pelas idiossincrasias de cada micro-cultura.

Em outras palavras, quanto menos se procura entender a realidade alheia, mais difícil se torna o compartilhamento de qualquer visão, menos produtivo é o trabalho em equipe, e menor será a motivação para aprender visando atingir qualquer nível de excelência.

Contudo, o mais grave é que esse comportamento classista impede os colaboradores de desenvolver percepção sobre os impactos das suas decisões além das paredes que os cercam e após o dia seguinte.

Pode-se reverter essa situação rompendo as tradições da arquitetura organizacional, através inovação de processos que, por irem muito além de simples reformulações, promovem uma quebra na acomodação das “castas”, pois profissionais, especialistas e executivos se unem no alinhamento com os processos inovados, que certamente visam maior satisfação dos clientes.

Arremate

Os planos de aprendizagem e gestão do conhecimento devem correr em ciclos e fases alinhados às transformações e sincronizados com o processo de mudança.

Sempre que eu ouvia falar em mudança, a tônica era nos resultados e quase nunca no processo em si. Era como se só houvesse o produto final e nenhum subproduto pudesse ser aproveitado ou tivesse valor. Era como se nada se aprendesse ou tivesse proveito para futuras mudanças que pudessem vir a acontecer. Perdia-se então a chance de acumular conhecimento ao longo do processo de transformação que ocorre na busca de um resultado final.

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